Canto Primeiro
Depois da vinda do bebé anunciar
Muito rápido apareceu a questão
Mas quem é que vai tratar
Do enxoval do nosso pequeno campeão? (ou campeã, não comecem já com coisas)
Ofertas multiplicaram-se para tudo o que fosse para brincar,
E a compra das primeiras roupinhas foi uma autêntica emoção,
Mas eu sabia que a temida altura iria chegar
De domar a fera "Carrinho de bebé", com espada e escudo na mão.
E eu que fui ler o primeiro canto de "Os Lusíadas" para me inspirar e depois suei imenso porque já não tenho ginástica mental para rimas?
Antes de contar a nossa experiência, deixo aqui também esta salvaguarda: Ainda não sou mãe e não tenho imensa experiência com bebés. Ainda não fiz quaisquer cursos de cuidados de bebé e que tais. Quisemos comprar certas coisas, tal como o carrinho de bébé, porque achamos que vão complementar e facilitar o nosso estilo de vida. Se realmente vai acontecer, isso são outros quinhentos.
Depois de celebrarmos as 12 semanas de gravidez, eu e o Patrick concordámos que estava na hora de começarmos a pesquisar sobre os itens essenciais para o bebé. Começámos por tentar pedir dicas aos poucos conhecidos que já têm filhos. Surpreendentemente, este processo custou-me bastante. Ao pedir dicas, fui confrontada, novamente, com a distância física que tenho para com a minha família. Sim, eu tenho noção que emigrei há quase 5 anos, mas nunca deixará de ser extremamente doloroso. Neste caso, a pontada apareceu quando me apercebi que não vou poder usufruir de certas coisas de bebé, guardadas pela minha mãe e avó, e que, por causa das minhas decisões pessoais, as minhas pessoas estão a viver esta gravidez à distância. Comecei-me a enterrar num poço de tristeza por estar a viver esta experiência longe de todos os meus. Esta foi a primeira "barreira" do enxoval do bebé: entender que este bébé será muito amado por todos tal como eu sou, independemente da distância. É por estas e por (tantas) outras que todo o dinheirinho que pago à minha terapeuta, é bem empregue.
Rapidamente percebi que há toda uma panóplia de opções no mundo de carrinhos de bébé. Ora bem, temos o carrinho convencional - cuja designação ajuda muito pouco as pessoas que não sabem o que convencional é -, carrinho de passeio, carrinho de 3 rodas, carrinho desportivo, carrinho 3-em -1 e carrinho para gémeos - o único fácil de meter de lado. Dentro de cada uma destas categorias temos ainda a possibilidade de ser convertível, de ter rodas todo o terreno, de incluir sistema de viagem, de ser mais ou menos compacto e de ter mais ou menos acessórios, tais como guarda-chuva e base para copos.
Provavelmente isto nem sequer são todas as opções. Contudo, este foi o momento em que peguei no meu homem e fomos à primeira loja. Estava na hora de ver com as mãos.
Chegados à primeira loja, o meu maior medo veio ao de cima: todos os carrinhos pareciam exactamente iguais, excepto o preço. Tinham sistemas de abertura e fecho ligeiramente diferentes, pesos ligeiramente diferentes, cores ligeiramente diferentes, mas, na sua grande maioria, eram exactamente a mesma coisa. Dei por mim com os calores por estar rodeada de tantas opções diferentes, mas iguais. Depois efectivamente veio o suor quando tentei abrir e fechar carrinhos.
Provavelmente visto de fora teve mais piada. Uma pessoa, cheia de confiança, a carregar nos botões todos e a conseguir efectivamente fazer nada. Os carros não fechavam, os carros não abriam, esquecia-me de travar as rodas e escorregava tudo, tentava fazer força mas tinha medo de partir, abanava aquilo tudo com fé que, por magia, fosse ao sítio. Genuinamente espero que os lojistas aproveitem as gravações das câmaras de segurança para entretenimento das festas de Natal. Eventualmente, fiz o que devia ter feito logo ao início e pedi ajuda a uma colaboradora.
Apesar de racionalmente saber que qualquer carrinho no mercado tem que passar nos certificados de segurança, também consigo entender que, desde que engravidei, tenho muito menos controlo sob as minhas emoções. O meu coração tremeu ligeiramente quando a colaboradora fez o seu discurso, mega treinado e repleto de afirmações polémicas, tais como: "Esta opção é A mais segura para o vosso bébé", "Esta tecnologia GARANTE o conforto do bébé" e "A qualidade de vida do bébé não tem preço". Foi esta a última frase que lhe estragou uma quase compra certa. Pois bem, eu já curto bastante da minha criança, mas a sua qualidade de vida terá um preço. Como já dizia o meu querido avô Manel, "Não compras o que não podes pagar", apesar de todos os bancos e Klarnas da vida tentarem dizer o contrário.
Depois deste primeiro embate, entendemos que o melhor caminho era jogar pela praticidade. Escolher uma opção confortável em termos de preço, que coubesse dentro do elevador do nosso prédio e que conseguíssemos carregar à mão, caso fosse necessário. Era preciso todo o drama inicial? De todo. Mas falar é fácil, entender como se fecha e abre um carrinho é que são elas.