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A Casa da Cabrita

A saga da (recente) maternidade, da (não tão recente) emigração, de uma relação intercultural e do caos que é viver entre Portugal e a Alemanha.

A Casa da Cabrita

A saga da (recente) maternidade, da (não tão recente) emigração, de uma relação intercultural e do caos que é viver entre Portugal e a Alemanha.

Glacier Express

Rita, 06.03.24

Não há nada melhor do que surpreender um amigo e ver o seu ar de felicidade. Juntar isso a uma experiência que gostaríamos muito de ter, é o melhor dos dois mundos. 

No fim de semana passado apanhámos um comboio para a Suíça para, pela primeira vez, viajarmos num comboio cénico, o Glacier Express. Todo o ambiente do comboio é bastante mágico, com grandes janelas panorâmicas e vistas incríveis de qualquer ângulo. Começámos em Brig, a 670m de altitude, com um belo Sol de Inverno, passámos pelos 2033m de altitude de Oberalppass rodeados de neve e terminámos a nossa viagem em St. Moritz. 

Um comboio de 6 horas que, por causa da companhia certa, pareceu nem ter 30 minutos. Muito rimos nós quando encontrámos as janelas entre carruagens e começámos a fazer adeus uns aos outros de uma carruagem para outra, com as cabecitas de fora. Coisas que só têm piada no momento, contado soa só parvo.

St. Moritz era uma incógnita grande para nós. Já tínhamos ouvido o nome, por ser uma estância de ski mega conhecida, mas ninguém sabia bem o que esperar da aldeia/vila/cidade em si. Digamos que se gostam de marcas de luxo ou de pagar as vossas compras com algum rim que tenham a mais, é o sítio ideal. 

Viajar grávida tem os seus desafios, daí também ter preferido a opção de comboios para todo o lado, para evitar aeroportos e aviões apertados. Contudo não antecipei o maior desafio de todos: a minha teimosia. Dei por mim a tentar compensar a suposta invalidez, que não tenho mas que o meu cérebro diz que sim, com toda e qualquer forma que arranjava para "ajudar". Os meus amigos precisavam de informações? Eu ia ao balcão. Alguém mencionava que tinha sede? Eu ia arranjar água. Encontramos uma espécie de evento e achamos que estão a oferecer cerveja grátis? Adivinhem lá quem foi perguntar se podia tirar uma. Eu podia olhar para este fim de semana e pensar que é tempo de acalmar e deixar os outros fazer. Contudo, lá no fundo, eu sei que só vai ficar pior. Portanto fica a questão: alguém precisa de alguma coisa?

A epopeia do carrinho de bebé

Rita, 29.02.24

Canto Primeiro

Depois da vinda do bebé anunciar

Muito rápido apareceu a questão

Mas quem é que vai tratar

Do enxoval do nosso pequeno campeão? (ou campeã, não comecem já com coisas)

 

Ofertas multiplicaram-se para tudo o que fosse para brincar,

E a compra das primeiras roupinhas foi uma autêntica emoção,

Mas eu sabia que a temida altura iria chegar

De domar a fera "Carrinho de bebé", com espada e escudo na mão.

 

E eu que fui ler o primeiro canto de "Os Lusíadas" para me inspirar e depois suei imenso porque já não tenho ginástica mental para rimas? 

Antes de contar a nossa experiência, deixo aqui também esta salvaguarda: Ainda não sou mãe e não tenho imensa experiência com bebés. Ainda não fiz quaisquer cursos de cuidados de bebé e que tais. Quisemos comprar certas coisas, tal como o carrinho de bébé, porque achamos que vão complementar e facilitar o nosso estilo de vida. Se realmente vai acontecer, isso são outros quinhentos. 

Depois de celebrarmos as 12 semanas de gravidez, eu e o Patrick concordámos que estava na hora de começarmos a pesquisar sobre os itens essenciais para o bebé. Começámos por tentar pedir dicas aos poucos conhecidos que já têm filhos. Surpreendentemente, este processo custou-me bastante. Ao pedir dicas, fui confrontada, novamente, com  a distância física que tenho para com a minha família. Sim, eu tenho noção que emigrei há quase 5 anos, mas nunca deixará de ser extremamente doloroso. Neste caso, a pontada apareceu quando me apercebi que não vou poder usufruir de certas coisas de bebé, guardadas pela minha mãe e avó, e que, por causa das minhas decisões pessoais, as minhas pessoas estão a viver esta gravidez à distância. Comecei-me a enterrar num poço de tristeza por estar a viver esta experiência longe de todos os meus. Esta foi a primeira "barreira" do enxoval do bebé: entender que este bébé será muito amado por todos tal como eu sou, independemente da distância. É por estas e por (tantas) outras que todo o dinheirinho que pago à minha terapeuta, é bem empregue.

Rapidamente percebi que há toda uma panóplia de opções no mundo de carrinhos de bébé. Ora bem, temos o carrinho convencional - cuja designação ajuda muito pouco as pessoas que não sabem o que convencional é -, carrinho de passeio, carrinho de 3 rodas, carrinho desportivo, carrinho 3-em -1 e carrinho para gémeos - o único fácil de meter de lado. Dentro de cada uma destas categorias temos ainda a possibilidade de ser convertível, de ter rodas todo o terreno, de incluir sistema de viagem, de ser mais ou menos compacto e de ter mais ou menos acessórios, tais como guarda-chuva e base para copos. 

Provavelmente isto nem sequer são todas as opções. Contudo, este foi o momento em que peguei no meu homem e fomos à primeira loja. Estava na hora de ver com as mãos.

Chegados à primeira loja, o meu maior medo veio ao de cima: todos os carrinhos pareciam exactamente iguais, excepto o preço. Tinham sistemas de abertura e fecho ligeiramente diferentes, pesos ligeiramente diferentes, cores ligeiramente diferentes, mas, na sua grande maioria, eram exactamente a mesma coisa. Dei por mim com os calores por estar rodeada de tantas opções diferentes, mas iguais. Depois efectivamente veio o suor quando tentei abrir e fechar carrinhos. 

Provavelmente visto de fora teve mais piada. Uma pessoa, cheia de confiança, a carregar nos botões todos e a conseguir efectivamente fazer nada. Os carros não fechavam, os carros não abriam, esquecia-me de travar as rodas e escorregava tudo, tentava fazer força mas tinha medo de partir, abanava aquilo tudo com fé que, por magia, fosse ao sítio. Genuinamente espero que os lojistas aproveitem as gravações das câmaras de segurança para entretenimento das festas de Natal. Eventualmente, fiz o que devia ter feito logo ao início e pedi ajuda a uma colaboradora.

Apesar de racionalmente saber que qualquer carrinho no mercado tem que passar nos certificados de segurança, também consigo entender que, desde que engravidei, tenho muito menos controlo sob as minhas emoções. O meu coração tremeu ligeiramente quando a colaboradora fez o seu discurso, mega treinado e repleto de afirmações polémicas, tais como: "Esta opção é A mais segura para o vosso bébé", "Esta tecnologia GARANTE o conforto do bébé" e "A qualidade de vida do bébé não tem preço". Foi esta a última frase que lhe estragou uma quase compra certa. Pois bem,  eu já curto bastante da minha criança, mas a sua qualidade de vida terá um preço. Como já dizia o meu querido avô Manel, "Não compras o que não podes pagar", apesar de todos os bancos e Klarnas da vida tentarem dizer o contrário.

Depois deste primeiro embate, entendemos que o melhor caminho era jogar pela praticidade. Escolher uma opção confortável em termos de preço, que coubesse dentro do elevador do nosso prédio e que conseguíssemos carregar à mão, caso fosse necessário. Era preciso todo o drama inicial? De todo. Mas falar é fácil, entender como se fecha e abre um carrinho é que são elas.

O Tino

Rita, 28.02.24

Em 2017, comprei o meu primeiro carro. Foi a minha primeira grande compra, que envolveu um "crédito" feito à minha mãe e muitos meses de pagamentos. Recebia o meu ordenado da altura, e pagava imediatamente a mensalidade do carro. Foi por essa altura que me senti mais adulta, seja isso o que for.

Na altura, a matrícula do carro veio com as letras "TR" e batizei-o de Tino de Rans. O "de Rans" perdeu-se com o tempo, mas o Tino ficou para sempre, inclusive quando veio para a Alemanha e a matrícula foi alterada. Achava (e ainda acho) piada dizer a qualquer pessoa, que pudesse ficar preocupada com alguma viagem, "Está descansado(a), que vou com Tino".

O Tino é um carro, um objecto inanimado. Eu tenho noção disso, mas é-me difícil retirar a emoção da equação, sempre que penso em momentos épicos que vivi naquele carro: 

  • A primeira viagem "grande" que fez, quando eu e o Patrick decidimos ir a Mira D'Aire, Leiria e Nazaré.
  • Uma viagem ao Soito, em que foi cheio até ao tecto.
  • Horas a treinar a apresentação da defesa da minha tese enquanto estava estacionada no parque da FCUL.
  • Sair de Lisboa em direção ao Carvalhal, para aproveitar os fins de semana de Agosto.
  • Boleias infinitas que dei a amigos e que proporcionaram conversas incrivéis.
  • Uma jornada épica Lisboa - Estugarda, feita pelos meus pais. 
  • Uma ida (ligeiramente ilegal) à floresta da Bavária. 
  • Muitas horas a ouvir podcasts e a aprender sobre tudo e mais alguma coisa.
  • Mais horas ainda a gritar em plenos pulmões "Bohemian Rapsody" e qualquer hit dos Queen que aparecesse na rádio.
  • Uma mudança de casa em que carregou quilos e quilos de caixas durante semanas consecutivas.
  • Desenterrá-lo sempre que havia um nevão, pedindo a todos os santinhos que estivesse tudo bem com ele (e estava sempre).

Estes são apenas os que me lembro de repente, mas há tantos outros.

O Tino sempre foi o meu símbolo de liberdade. Já não dependia da disponibilidade dos meus pais ou de transportes ou de qualquer horário, tinha ali o meu carro. Também se tornou um símbolo da minha vida pós faculdade em Lisboa, um dos poucos que ainda tenho. 

Vou vender o Tino esta semana e tem sido difícil lidar com a separação. Ela tem que acontecer, porque infelizmente o espaço do Tino é reduzido para uma família de 3. Espero que seja comprado por uma "Rita", que aproveite o carro tão bem quanto eu aproveitei.

Adeus, querido Tino, que nos cruzemos na estrada em breve. Não dês problemas à tua nova família, especialmente antes do dinheiro deles nos cair na conta.

Vamos fingir todos juntos que não desapareci durante 4 anos

Rita, 26.02.24

Quando engravidei foi um pequeno choque. Sabia que era possível, era algo que eu e o meu marido queríamos mas foi um processo muito rápido. Tão rápido que me senti quase que enganada. Roubaram-me um ano que eu achava que ia viver com bastante autonomia e independência. Sei que sou uma sortuda por estar saudável, grávida de 5 meses e a viver uma gravidez qb tranquila. Contudo, ao início, esta gratidão demorou um pouco a aparecer.

Sinto-me um pouco ridícula ao relembrar a minha primeira consulta de obstetrícia, onde a gravidez foi confirmada. Quase que pedi satisfações à médica que, em Setembro, me tinha dito "Um casal demora cerca de 1 ano de actividade sexual consistente para engravidar" e, em Novembro, me diz "Parabéns!!". Depois, pedi para me ensinar a contar semanas, porque queria perceber se iria conseguir ir a um casamento de uma amiga próxima. Estão a ver as grávidas que choram ao ver o bebé pela primeira vez, apesar de não se ver nada sem ser uma bolinha cinzenta desfocada? Eu chorei quando entendi que ir ao casamento seria extremamente difícil, a roçar no impossível.

Isto tudo mudou eventualmente. Finalmente uma cena como nos filmes: a ficha caiu quando ouvi o coração do bebé. Não vou mentir e dizer que todos os planos cancelados e todas as incertezas ficaram super fáceis de processar. Não, ainda estou em processo de luto por várias coisas que não vou viver, por várias relações que vão mudar, pela minha liberdade que, durante algum tempo, vai ser bastante limitada.

Contudo, agora acredito mais que vou viver tantas outras que vão valer muito a pena (Mães e pais que leiam isto e discordem, não me digam nada.)

Dei por mim a questionar se agora só iria escrever sobre a gravidez. Se calhar sim, provavelmente não. Sempre escrevi sobre o que se passa na minha vida (ia adicionar "em tempo real", mas sinto que não tenho moral para tal). Isso não irá mudar agora. Agora, se será sobre o desgaste que foi comprar um carrinho de bebé ou sobre a última temporada de Love Is Blind, logo se vê.

És parecida com a tua família?

Rita, 17.09.20

Acho uma pergunta estranha. Pelo menos, a minha família tem várias personagens, com muita personalidades diferentes, e que me influenciaram bastante em vários momentos da minha vida. Sinto que somos todos parecidos em termos de gostarmos muito de estar em família, de ficarmos todos doidos quando nos juntamos todos e de querermos saber as novidades de todos. 

Acho que tenho traços característicos dos meus pais e adoro. Quando era adolescente tinha a mania que era diferente e ninguém me compreendia (não passamos todos por isto?), mas agora, sempre que noto que acabei de fazer ou dizer que seria tipicamente feito ou dito pela minha mãe ou pai, fico derretida. 

Assim, adoro ser "parecida" à minha família. Espero que os meus filhos também se tornem parecidos a nós e que isto continue durante muito mais gerações. Tudo tem mais piada quando é partilhado, incluindo as personalidades e feitios.

 

(Dia 11 de 30)

Com o que te preocupas realmente?

Rita, 16.09.20

Há muitas coisas que me preocupam (é só ler o post anterior), mas, se tiver que escolher apenas uma coisa, diria que me preocupo com a saúde. Minha e dos meus. 

Eu sou uma pessoa constantemente stressada. As situações ainda não chegaram e lá estou eu a adivinhar cada problema e a tentar resolvê-lo. Não sou mãe, mas torturo-me a pensar que, se estiver longe dos meus pais, tenho que organizar um esquema de forma a que estejam presentes na vida dos meus filhos. Não faço ideia de como será o próximo ano, então faço já uma lista de coisas que provavelmente não podem acontecer e quais serão os planos B, C, D... Existem muito mais exemplos, mas não vos quero cansar (nem abrir a caixa de pandora que é a minha cabeça).

Contudo, acima de todos os meus planos, logísticas, preocupações e medos há uma coisa muito importante: a saúde. Do que é que me serve estes planos todos, se alguém não tiver saúde? É por isso que tenho tentado recolher mais informação sobre estilos de vida e alimentação. Começo por mim, para tentar responder às minhas perguntas, e tentarei inspirar os meus familiares em mudanças subtis que possam contribuir para um futuro com melhor qualidade. 

Comecei (e podem também começar) por algo simples, que me abriu logo os olhos: uma lista do que como ao longo da semana. Percebi logo que algo tinha que mudar, quando mais dias tiveram cargas grandes de açúcar do que de vegetais (Não foi uma graaaaande surpresa, mas ver por escrito doeu mais do que se a informação estivesse encostada a um canto no meu cérebro).

No final, a saúde é um grande equalizador. Temos que trabalhar para ela, e não apenas remediar as situações que aparecem. Joguemos na antecipação e previnamos. É que normalmente, e falo também em mim, só se pensa na saúde quando já não se tem.

(Dia 10 de 30)

O que é que queres ver mais no mundo?

Rita, 15.09.20

Não, não desisti do desafio. Domingo é dia de ronha geral e não me pareceu bem trair o meu sofá com o blog. Espero que compreendam. E ontem estive indisposta. Escrevi um post sobre o tópico de ontem mas ainda não me sinto preparada para o partilhar. Não me perguntem porquê, mas o meu instinto está aqui aos berros a dizer "Ainda não!!!". Respeitemos o instinto. 

A pergunta de hoje é interessante. Eu tenho sempre um friozinho na barriga quando penso no futuro. Atualmente ouvimos que, mantendo os comportamentos atuais, daqui a 20/30 anos ficaremos sem recursos naturais, toda a nossa água estará (ainda mais) contaminada com microplásticos, etc etc. Politicamente falando, a percentagem de apoio a partidos de extrema direita, é grave. Depois de anos a lutar pela liberdade e igualdade, sinto que estamos a regredir.

O que quero ver mais no mundo é o avançar.  Para mim, tornarmos avançar se nos focarmos em dois pontos: 

1. Votar em consciência. A minha geração sempre pôde votar. Quase que nos esquecemos que as coisas nem sempre foram assim. Foram anos de luta para todos termos acesso ao direito de voto. O mínimo que podemos fazer é recolhermos informação, criarmos uma opinião centrada nos nossos valores e ir votar. Dizer mal dos políticos é muito fácil, mas eles sobem àqueles cargos porque foram eleitos. Por nós. Não sabem em quem votar? Informem-se, todos os partidos têm sites com todo o seu programa. Não sabem onde votar? Contactem a vossa camâra municipal! São emigrantes, como eu? Registem-se no consulado e estejam atentos às comunicações deles no Facebook, sites, newsletters. A informação está disponível, só temos que a procurar.

2. Ser mais consciente com as nossas escolhas. Eu não sou extremista. Atualmente, na sociedade em que vivemos, é muito dificil tomarmos escolhas 100% sustentáveis ao longo do nosso dia. Por exemplo, a Alemanha a venda a granel é algo praticamente não existente portanto eu acabo por comprar muitos embalados. Mas devemos focar-nos no que podemos fazer, invés no que não podemos fazer. Deixar de usar objectos de uso único, evitar talheres de plástico/embalagens/palhinhas sempre que vamos comer fora, andar mais a pé, bicicleta ou de transportes públicos, comprar o necessário e não por impulso, evitar o desperdício alimentar (!!!!), entre tantas outras. O consumidor manda e as marcas adaptam-se. Se pararmos de comprar fruta embalada em plástico, ela desaparecerá das prateleiras.

Como a minha avó diz, não são precisas poucas pessoas a fazer muito, mas muitas pessoas a fazer pouco. Se todos dermos um passo em frente, isto fica mais fácil.

 

(Dia 9 de 30)

O que é que a Rita de 10 anos pensaria da pessoa em que te tornaste?

Rita, 12.09.20

A Rita de 10 anos era uma pessoa completamente focada na escola. Não tinha muitos amigos, mas não sentia grande falta. Mergulhava nos livros com toda a facilidade e adorava a rotina pós-escola (que sei até hoje): 

Segundas e Quartas: Natação

Terças e Quintas: Ginástica Acrobática

Sextas: Disney Channel 

Queria ser médica (anos mais tarde vim a descobrir que não lido muito bem com o ver sangue), queria ser mãe aos 27 e queria ser independente. Dizia-me a mim própria que, mal pudesse, iria sair de casa e iria financiar todas as minhas aventuras pelo mundo. Lembro-me de estar sentada no chão da sala a recortar paisagens das mil e uma revistas da minha mãe e a fazer colagens sobre todos os sítios que iria conhecer um dia. 

Acho que a Rita de 10 anos iria estar bem feliz com o que a Rita de 25 já alcançou. Não se pode queixar de faltas de aventura, ela que leia o blog! Contudo, a Rita de 25 já lhe explicou que não há cá bébés aos 27.

 

(Dia 8 de 30)

Olhando para o que estás a viver agora, do que vais ter saudades?

Rita, 11.09.20

Esta é uma pergunta complicada. Eu não consigo prever a 100% o que vai mudar no futuro, portanto não consigo prever assertivamente do que vou ter mais saudades. Arriscando a possibilidade de parecer egoísta, vou ter saudades do silêncio. Eu vivo com o meu namorado, mas somos os duas pessoas que apreciam silêncio. Adoramos passar tempo juntos, mas há momentos em que ambos sabemos que temos que estar sozinhos a fazer o que queremos. 

Eu tenho uma família muito barulhenta e adoro quando nos juntamos todos, em puro frenezim. Contudo, adoro quase tanto o silêncio pós frenezim. No céu há daquilo, só pode. Aquele momento em que ouvimos a voz dentro da nossa cabeça e que nos podemos centrar em nós próprios é maravilhoso e, provavelmente, desvalorizado pela maioria. 

Acho que é por isto que escrevo. No dia em que me esquecer da importância de parar, respirar fundo e ouvir os meus próprios pensamentos, venho aqui relembrar-me de que há muito pouca coisa tão valiosa e poderosa como o silêncio. 

(Dia 7 de 30)

Do que é que vais ter orgulho?

Rita, 10.09.20

Normalmente escrevo de manhã. Hoje de manhã não consegui. Estava com a cabeça cheia de coisas e não me conseguia concentrar neste tópico. No meio das minhas reuniões recebi um mail que confirmava as minhas suspeitas: não fui seleccionada para um emprego para o qual me candidatei. Fiquei muito triste (ainda estou), mas vai passar. É disto que eu tenho orgulho em mim, e vou ter daqui a muitos anos. Da minha capacidade de não desistir, de reagir (às vezes mais devagar, outras vezes mais rapidamente) e de ir à luta. De tentar, de cair, de levantar. (Acho que) Sei o que quero e um dia vai acontecer. 

P.S - Estou a escrever isto e apetece-me rir. Eu não sou assim tão forte como me descrevi. Atenção, continuo mega orgulhosa de mim e sou, de facto, lutadora. Mas no meio da luta há dramas excessivos, há acelerações, há mil e um planos que nunca vão dar em nada e há choros (tantos!) . Valha-me a paciência dos meus que me aturam a mim e às minhas ideias intermináveis. Portanto, se me permitirem completar a resposta, tenho ainda mais orgulho do circulo de amigos que criei e que são os melhores cheerleaders.

(Dia 6 de 30)