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A Casa da Cabrita

A saga da (recente) maternidade, da (não tão recente) emigração, de uma relação intercultural e do caos que é viver entre Portugal e a Alemanha.

A Casa da Cabrita

A saga da (recente) maternidade, da (não tão recente) emigração, de uma relação intercultural e do caos que é viver entre Portugal e a Alemanha.

Só podia ser #9

Rita, 23.01.20

Alguém se lembra dos "Só podia ser"? São uma colectânea de coisas que só podiam ser (e esta explicação espectacular?). Melhor, são relatos de experiências que, tendo em conta a minha personalidade e (falta de) jeitinho, só podiam acontecer. Quem é que tinha saudades de ficar ligeiramente mais feliz com a sua vidinha ao ver os disparates da minha?

Em Dezembro fiz 25 anos e precisei de levar um bolo para a empresa. O DRAMA. Eu não sou espectacular na cozinha. Contudo, quando comecei a pesquisar pastelarias onde poderia encomendar um bolo, comecei a aperceber-me o porquê dos meus colegas levaram bolos feitos por eles. Na Alemanha não há ofertas de bolos abaixo dos 40€. Imaginem um pão de ló seco e ressequido a 35€. Eu procurei, eu procurei muito. Quando questionei o homem ele disse que era o preço normal. Ele usou a palavra normal. Tá doido. 

Percebi que iria ter que fazer o meu bolo. O homem ofereceu-se para fazer mas eu, porque sou eu, fui orgulhosa, meti o avental e lá fui fazer um bolo de chocolate fofinho para os meus colegas:

IMG-20191208-WA0010.jpg

Eu juro que besuntei a forma com margarina. Mas é possível que não tenha colocado farinha. Nunca saberemos.

 

P.S - Obrigada aos meus colegas que não fizeram muitas perguntas e comeram um bolo que já vinha cortado aos pedaços.

 

 

Até já, Pipa

Rita, 22.01.20

Normalmente escrevo no blog para me divertir. Para meter um cunho mais humorístico e satírico em momentos do meu quotidiano. Há 5 meses que deixei de ter vontade de me divertir.

Alguém, muito especial, faleceu repentinamente. Foi/é dificil de lidar com esta realidade de dizer adeus a alguém que tinha demasiado por viver. Esta pessoa tornou-se essencial na nossa família. Interessava-se por nós, falava abertamente dos desafios que tinha na vida dela e utilizava qualquer tipo de celebração como desculpa para nos juntar. Fazia com que qualquer distância fosse minimizada. Tinha sempre uma opinião e partilhava-a, sem medo. Apresentava sempre argumentos fundamentados. Uma discussão com ela não era pêra doce. Acreditava vincadamente e apaixonadamente nos seus princípios e lutava por eles. Era uma inspiração. 

Nunca retribuí a chamada que lhe queria fazer desde Maio. Tive 3 meses e nada. Porque não me apetecia, porque não queria ter que lidar com as perguntas dela, porque amanhã seria, supostamente, outro dia. Sentei-me e pensei porque raios teria eu tanta aversão a responder a perguntas sobre a minha vida. Não só dela, mas da minha família toda. Quando me perguntam pelo meu emprego, pelo meu namorado, por qualquer tipo de decisão pessoal, eu fecho-me a sete copas e atiro o típico "Está tudo a andar bem". Com alguma ajuda, percebi que o meu problema não é o falar sobre as minhas decisões, mas sim lidar com a opinião dos outros sobre elas. Importo-me demasiado em dizer e fazer a coisa certa aos olhos dos outros.

A minha avó gosta de acreditar que ela teve que ir tão cedo porque tinha uma missão muito importante para tratar. E este pensamento reconforta-me. Consigo imaginá-la a revolucionar qualquer mundo onde esteja.

Ela fez-me olhar para mim, fez-me procurar ajuda e ajustar a comunicação com a minha família. Lá no fundo, continua a unir a nossa família de uma maneira que só ela sabia. Também me fez acordar para o facto de que, realmente, só nos arrependemos das coisas que não fazemos, dos "Amo-te" que ficam guardados só para nós.

Pipa, acho que ela nunca desconfiaste do quanto te admirava. Foste e és muito amada. Estamos cá para olhar pelos teus meninos.