Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

A Casa da Cabrita

A saga da (recente) maternidade, da (não tão recente) emigração, de uma relação intercultural e do caos que é viver entre Portugal e a Alemanha.

A Casa da Cabrita

A saga da (recente) maternidade, da (não tão recente) emigração, de uma relação intercultural e do caos que é viver entre Portugal e a Alemanha.

O Tino

Rita, 28.02.24

Em 2017, comprei o meu primeiro carro. Foi a minha primeira grande compra, que envolveu um "crédito" feito à minha mãe e muitos meses de pagamentos. Recebia o meu ordenado da altura, e pagava imediatamente a mensalidade do carro. Foi por essa altura que me senti mais adulta, seja isso o que for.

Na altura, a matrícula do carro veio com as letras "TR" e batizei-o de Tino de Rans. O "de Rans" perdeu-se com o tempo, mas o Tino ficou para sempre, inclusive quando veio para a Alemanha e a matrícula foi alterada. Achava (e ainda acho) piada dizer a qualquer pessoa, que pudesse ficar preocupada com alguma viagem, "Está descansado(a), que vou com Tino".

O Tino é um carro, um objecto inanimado. Eu tenho noção disso, mas é-me difícil retirar a emoção da equação, sempre que penso em momentos épicos que vivi naquele carro: 

  • A primeira viagem "grande" que fez, quando eu e o Patrick decidimos ir a Mira D'Aire, Leiria e Nazaré.
  • Uma viagem ao Soito, em que foi cheio até ao tecto.
  • Horas a treinar a apresentação da defesa da minha tese enquanto estava estacionada no parque da FCUL.
  • Sair de Lisboa em direção ao Carvalhal, para aproveitar os fins de semana de Agosto.
  • Boleias infinitas que dei a amigos e que proporcionaram conversas incrivéis.
  • Uma jornada épica Lisboa - Estugarda, feita pelos meus pais. 
  • Uma ida (ligeiramente ilegal) à floresta da Bavária. 
  • Muitas horas a ouvir podcasts e a aprender sobre tudo e mais alguma coisa.
  • Mais horas ainda a gritar em plenos pulmões "Bohemian Rapsody" e qualquer hit dos Queen que aparecesse na rádio.
  • Uma mudança de casa em que carregou quilos e quilos de caixas durante semanas consecutivas.
  • Desenterrá-lo sempre que havia um nevão, pedindo a todos os santinhos que estivesse tudo bem com ele (e estava sempre).

Estes são apenas os que me lembro de repente, mas há tantos outros.

O Tino sempre foi o meu símbolo de liberdade. Já não dependia da disponibilidade dos meus pais ou de transportes ou de qualquer horário, tinha ali o meu carro. Também se tornou um símbolo da minha vida pós faculdade em Lisboa, um dos poucos que ainda tenho. 

Vou vender o Tino esta semana e tem sido difícil lidar com a separação. Ela tem que acontecer, porque infelizmente o espaço do Tino é reduzido para uma família de 3. Espero que seja comprado por uma "Rita", que aproveite o carro tão bem quanto eu aproveitei.

Adeus, querido Tino, que nos cruzemos na estrada em breve. Não dês problemas à tua nova família, especialmente antes do dinheiro deles nos cair na conta.

1 comentário

Comentar post